Lutar não é crime!

Na última quarta-feira (25/07), ocupamos a Fundação de Apoio à Pesquisa e à Extensão (FAPEX) por tempo indeterminado. O objetivo tem sido pressionar a Reitoria da UFBA a atender as nossas reivindicações que constam em uma carta com cinquenta pontos, reiterada há várias semanas e enviadas desde o início da greve, que já dura cinquenta e três dias. Além disso, enviamos uma nova carta à Administração Central com 10 pontos de pauta prioritários, metas e prazos facilmente realizáveis.

Infelizmente, foi divulgada uma nota pela FAPEX, em horário nobre das emissoras televisivas, que criminalizou o Movimento Estudantil, nos culpando por atrasos de pagamentos de bolsa estágio, salários, fornecedores e prestadores de serviço. Tal pronunciamento da Fundação encobre as verdadeiras motivações que nos levaram à ocupação. É lamentável que a FAPEX tenha recorrido à grande imprensa para criminalizar um movimento social – prática recorrente entre os setores conservadores da sociedade. Porém, a tentativa de criminalização não torna a nossa luta intransponível, pelo contrário, destaca a responsabilidade que temos de disputar um novo projeto de sociedade, em que a educação não seja refém de uma lógica mercantilista.

Repudiamos veementemente a utilização dos meios de comunicação de massa para recriminar reinvindicações legítimas, principalmente quando se trata de setores sociais historicamente prejudicados, como o MST e o Movimento de Mulheres. Foi essa mesma imprensa que se beneficiou e, em certa medida, sustentou o golpe militar, que divulgou tendenciosamente a reintegração de posse do Pinheirinho e que hoje, praticamente, omite uma greve nacional puxada em prol da Educação.

Não é de agora que a adiministração central da UFBA trata o movimento estudantil com descaso, visto que no ano passado a mesma se comprometeu a atender algumas das pautas do corpo discente (a exemplo dos Restaurantes Universitários de São Lázaro, do Canela e o BUSUFBA) até os meses de março e abril deste ano; porém, até agora nada foi feito. Durante a nossa greve, ocorreram diversos espaços de diálogo com a Reitoria, como a audiência pública do dia 09 de julho. Nessa audiência, a administração central, já tendo conhecimento das pautas reivindicadas, mostrou a sua total incapacidade e falta de vontade em dialogar com as demandas discentes – não apresentando propostas concretas, recorrendo, sobretudo, a GT’s (Grupos de Trabalho) numa tentativa de protelar o debate. É fundamental que a Reitoria entenda a força dessa greve e o caráter emergencial que deve ser dado ao cumprimento das pautas!

Nesse contexto de ocupação da FAPEX, que hoje completa cinco dias, a reitoria não tem tratado o movimento estudantil com seriedade, e vem recorrendo a táticas covardes para criminalizar a nossa mobilização, a exemplo da nota supracitada. Além disso, ontem (28/07), como uma consequência da ocupação, uma comissão que compõe o Comando de Greve dos Estudantes se reuniu com o Reitorado no Pavilhão de Aulas III, em Ondina. A negociação não teve como resultado propostas concretas, mas uma postura evasiva por parte da Reitoria, que estava mais preocupada com o retorno das atividades da Fundação do que com o atendimento das pautas estudantis. Reivindicações como a licitação e a abertura de editais para os restaurantes universitários, que influenciam diretamente na permanência dos estudantes na Universidade, estão sendo barradas por conta do descaso travestido de burocracia da administração central.

O movimento estudantil é formado por diferentes discentes, de diversas classes sociais e de distintas áreas de atuação, porém mudar o status quo vigente e as relações desiguais é um ponto que nos une! Somos futuros professores, médicos, cientistas sociais, comunicólogos, engenheiros, psicólogos e muitos outros que continuarão a lutar pela descriminalização dos movimentos sociais. A história tem mostrado a importância que o Movimento Estudantil tem, as conquistas que obtivemos, a nossa contribuição na redemocratização do país e a nossa atuação em garantir que o povo esteja dentro das Universidades.

De forma alguma, ocupamos a Fundação com a finalidade de prejudicar bolsistas e trabalhadores, pelo contrário, ocupamos para que as pautas reivindicadas sejam atendidas e para que os filhos da classe trabalhadora possam adentrar e permanecer na Universidade. O compromisso que a UFBA tem com todos nós, inclusive com os que estão fora de suas dependências, precisa ser cobrado e nós faremos o que for possível para isso. O nosso compromisso é por uma Universidade melhor, diversa e que sirva a todas e todos. A situação da UFBA desperta a nossa inquietação e a nossa indignação enquanto estudantes, protagonistas sociais e compromissados com a Educação do país. Lutar não é crime!

Na luta de classes
Todas as armas são boas
Pedras
Noites
Poemas

(Leminski)

Comando de Greve dos Estudantes da UFBA,
29 de Julho de 2012, da FAPEX ocupada.

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